Gentrificação




Com a globalização e a melhora da economia nacional, começa a surgir no Brasil um "movimento" de revitalização urbana chamado gentrificação. A ideia desse "enobrecimento urbano, ou gentrification, diz respeito à uma intervenção em espaços urbanos (com ou sem auxílio governamental), que provocam sua melhoria e consequente valorização imobiliária, com retirada de moradores tradicionais, que geralmente pertencem a classes sociais menos favorecidas, dos espaços urbanos" [Wikipédia].

Num primeiro momento esse movimento parece ser interessante, visto que buscar recuperar locais que estão degradados. No entanto, devemos nos perguntar qual será o preço dessa recuperação? Não somente por conta dos recursos públicos demandados, mas também, em relação à vida das pessoas que ocupam atualmente esses locais.

Por exemplo, para onde serão enviadas as pessoas que moram atualmente nos locais recuperados? Muitos desses lugares também abrigam moradores de ruas que, da mesma forma, terão que ser removidos, mas para onde?

Eu trabalho no Centro velho de São Paulo e, confesso que gostaria muito de vê-lo recuperado, mas a pergunta anterior continua me angustiando: para onde vão enviar os antigos moradores? 

Eduardo Nobre, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, avaliando as intervenções urbanas feitas em Salvador, conclui que:  

"não é o caso de negar o desenvolvimento econômico proporcionado pelo turismo, visto que ele tem grande importância na cidade de Salvador, gerando um grande número de empregos e de atividades econômicas. Contudo, esse processo foi um ótimo negócio para os proprietários, que tiveram seus imóveis recuperados e valorizados com investimento público, enquanto que a população pobre foi recolocada para piores condições de vida geralmente" [NOBRE, 2003].
Inevitavelmente, o embelezamento das cidades brasileiras em decorrência da prosperidade passará pelas velhas questões sociais. Com olhares mais atentos, os moradores de grandes metrópoles como São Paulo podem ver que muitos mendigos já estão migrando para bairros periféricos. E aí, vem a pergunta: será que isso já é resultado de uma gentrificação mal feita?

Questões como essa deveriam estar no centro dos debates políticos, pois em algum momento isso tudo se voltará para nós, assim como acontece com o caso do combate às drogas, por exemplo.

Ao abordar esse tema com as pessoas, vejo que a maioria nem pensa sobre o assunto. Quando alguém arrisca opinar sobre isso, diz algo como: “em se tratando de morador de rua, ‘o que dá para fazer?’, a maioria é vagabundo mesmo!”. Será que é tão simples assim? E com relação ao moradores, o que fazer?

Acredito ser importante revitalizar áreas que estão degradadas, entretanto, é preciso fazê-lo de forma sustentável, de maneira que todos saiam ganhando. Alguns pesquisadores, como Ferraz (2004) citado por Moraes (2007), sugerem que "há apenas uma alternativa para fazer do centro uma área democrática: “ou considera-se o centro uma área de usos mistos, sem excluir os atuais ocupantes, ou se destrói a atual situação e, no lugar, constrói-se um simulacro, uma espécie de ‘teatro a céu aberto’, onde uns são bem-vindos e outros não – neste caso, melhor mudar o nome ‘centro’”.

Ainda não tenho uma opinião formada sobre o assunto, mas sei que precisamos pensar nisso antes de agir, pois só assim exerceremos nossa cidadania de forma efetiva.