Um dos “movimentos” mais interessantes em nosso tempo e, no entanto, ainda pouco relevante, é o da missão integral. Apesar de não ser propriamente uma novidade, pois a “expressão ‘missão integral’ foi gerada principalmente no seio da Fraternidade Teológica Latino-Americana há mais ou menos duas décadas” (RENÉ PADILLA, 2009, p.12), a missão integral teria tudo para transformar a realidade espiritual e social de nosso país.
Segundo René Padilla, em seu livro ‘O que é missão integral?’, esse “movimento” nasce como uma tentativa de ser um contraponto ao movimento missionário moderno que, por sua vez, entendia missão como algo estritamente relacionado com questões geográficas, ou seja, o “propósito da missão era ‘salvar almas’ e ‘plantar igrejas’, principalmente no exterior, mediante a proclamação do evangelho” (RENÉ PADILLA, 2009, p. 14).
Na perspectiva da missão integral, a missão da igreja não se restringe a poucos vocacionados dispostos a cruzar fronteiras geográficas, vai muito além disso. Para exemplificar essa diferença, René Padilla concorda com Brian McLaren que diz:
“Para Cristo, seus “chamados” (que na realidade é o que significa “igreja”) seriam também seus “enviados” [ou missionários]... Segundo esta visão da igreja, não recrutamos pessoas para que sejam clientes de nossos produtos ou consumidores de nossos programas religiosos; nós as recrutamos para que sejam colegas em nossa missão. A igreja não existe para satisfazer às demandas de crentes consumidores; ela existe para equipar e mobilizar homens e mulheres para a missão de Deus no mundo.” (RENÉ PADILLA,2009, p.19).
Diante disso, René Padilla sugere que ser missionário não é responsabilidade e privilégio de alguns que se sentem chamados ao campo missionário (que neste enfoque é o mundo todo, inclusive o nosso bairro), mas sim de todos os membros (geração eleita), já que todos foram chamados por Deus com o objetivo “de proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” [1Pe 2.9] onde quer que se encontrem.
Na visão de René Padilla, missão integral não é um novo paradigma para a missão, ou seja, na verdade é
“a recuperação do conceito bíblico da missão, já que, de fato, a missão é fiel ao ensinamento das Escrituras na medida em que se coloca a serviço do reino de Deus e sua justiça. Consequentemente, ela focaliza o cruzamento da fronteira entre o que é fé e o que não é, não somente em termos geográficos, mas também em termos culturais, étnicos, sociais, econômicos e políticos com o fim de transformar a vida em todas as suas dimensões, segundo o propósito de Deus, de modo que todas as pessoas e comunidades humanas experimentem a vida abundante que Cristo lhes oferece” (RENÉ PADILLA, 2009, p.19-20).
Para concluir, penso que a missão integral não se tornou tão relevante quanto deveria por dois fatores principais: primeiro porque requerer que os fiéis deixem suas poltronas cativas de membros-cliente e passem a ser agentes do Reino; e, por fim, para decepção de muitos clérigos, porque como o próprio René Padilla diz:
“Quando a igreja se compromete com a missão integral e se propõe a comunicar o evangelho mediante tudo o que é, faz e diz, ela entende que seu propósito não é chegar a ser grande numericamente, ou rica materialmente, ou poderosa politicamente. Seu propósito é encarnar os valores do reino de Deus e testificar do amor e da justiça revelados em Jesus Cristo, no poder do Espírito, em função da transformação da vida humana em todas as suas dimensões, tanto em âmbito pessoal como em âmbito comunitário” (RENÉ PADILLA, 2009, p.18).